A sabedoria popular é a herança ética que nos deixaram nossos ancestrais.
Aqueles homens e aquelas mulheres que desbravaram sertões e matas, cavando a
terra com as próprias mãos e regando-a com o próprio sangue.
Pegue um pouco de terra nas conchas das suas mãos e cheire-a.
Vai me dizer que não sente o cheiro da vozinha e do vozinho? Vai lá, tente de
novo, feche os olhos e aspire o cheiro da terra longamente. Sentiu? Pois é...
Por isso sou uma apaixonada pelos ditos populares. Eles são as vozes dos meus
que se foram, mas permanecem comigo, genética, moral e eticamente. Eu sou a
herança que eles me deixaram.
Certamente muitos de vocês, leitores, tem também este
sentimento. Por isso ouso partilhar com vocês essa minha simples reflexão a
partir de alguns ditos populares. Ou melhor, a partir das vozes da nossa
ancestralidade que ecoam no Universo para sempre. Ouçamos o que a
ancestralidade nos sussurra na voz do vento.
Ela nos diz que pior cego é aquele que não quer ver, que,
convenientemente, não enxerga um palmo adiante do nariz. O que, tá brincando é?
Sei disso não. Não vi não.
Aliado do cego é o ouvido de mercador. O que? Como? Saí pra
lá, quero saber não! Vaza, vai!
Pior ainda é tentar esconder o sol com a peneira. Escoam
pelos furos, sobre a cara deslavada do cego-surdo, as porcarias desocultas.
Mas nada como um dia atrás do outro: onda vai, onda vem... E
água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
O triste é saber que uma andorinha só não faz verão. É
preciso reunir algumas delas para que o sol aqueça o inverno tenebroso que
teima em se instalar. Mas elas sempre se reúnem, em uma certa estação, em um
certo lugar, em um certo momento. E voam trazendo consigo o Sol, livres – a
verdade as libertará!
Depois do inverno, da tempestade, invariavelmente vem a
bonança. E, quando sob a fúria dos ventos, dos raios e dos trovões, lembremos
que é na necessidade que se (re)conhecem os amigos, que fazem o verão
andorinhês.
A transformação de um estado de coisa para um estado de ética
tarda, mas não falha, pois não há mal
que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. Não choremos sobre o leite
derramado. Antes tarde do que nunca!
Deitemos e descansemos, então, na cama mesma que fizemos. Na
solidão do Eu. À espera...
A benção, pai, mãe, vó, vô, bisa, biso. A benção vida minha,
Universo meu!
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